Eu, rossonero, me confesso
Tive a oportunidade de ver o último jogo do Milan, frente à
Lazio. A equipa de Roma esteve a perder por 1-0 mas deu a volta na segunda
parte acabando por vencer 3-1.
Este resultado atirou o conjunto de Milão para o 9.º lugar, com 26 pontos, a “meros”
23 (!) da líder Juventus, isto à 20.ª jornada.
O jogo é o ponto de partida para este texto, onde pretendo
fazer a comparação, posição a posição, entre o onze inicial do Milan frente à
Lazio e um onze da época 2010/2011, em que o Milan se sagrou campeão pela
última vez (e o último campeão antes da hegemonia da Juventus).
Em termos de
qualidade, as diferenças são abismais. Os problemas financeiros não desculpam
tudo. Estamos a falar de um intervalo de apenas quatro anos…
(A vermelho o jogador do plantel actual. A preto o de 2010/2011)
Christian Abbiati – Um histórico rossonero, capaz do melhor
e do pior. Já fez exibições de luxo como jogos desastrosos. O veterano de 37
anos era titular no último título do Milan. Ainda continua no plantel mas como
suplente de Diego Lopez.
Diego Lopez - Já tinha experiência acumulada quando chegou
ao Bernabéu mas se já não é fácil pontificar no balneário merengue, mais
difícil se torna quando se é aposta do treinador em detrimento de Iker
Casillas. Com Ancelotti voltou à condição de suplente pelo que a saída para
Milão foi vista com bons olhos. Titular indiscutível.
Defesa-direito
Gianluca Zambrotta – O plantel de 10/11 era rico em
experiência pelo que vão ler muitas vezes a palavra “histórico”. Zambrotta era
um deles embora tenha ganho esse estatuto ao longo de sete épocas de Juventus. Campeão
do Mundo em 2006, viajou para Barcelona tendo saído antes do período áureo ‘culé’.
No Milan, emprestou qualidade e classe.
Ignazio Abate – Fez alguns jogos como titular em 2010/11 e é
dono do lugar na época atual. É o chamado “bom defesa mas nada de
extraordinário”. Nos jogos de computador é grande bomba, na realidade é vivaço,
vá.
Defesas-centrais
Thiago Silva – O brasileiro era, à altura, titular de caras,
fazendo com Nesta uma dupla sólida no centro da defesa. Para além da qualidade,
a concorrência também facilitava a titularidade: Bonera, Yepes, Legrottaglie…
Alessandro Nesta – Nome que dispensa apresentações. Esteve 9
épocas ao serviço da Lazio e 10 ao serviço do Milan. Foi campeão nos dois
clubes e era dos mais titulados do plantel. Na memória ficam as duplas feitas
com Costacurta, Maldini ou Stam.
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Créditos: Getty Images |
Philippe Mexès - Declaração de interesses: detesto Philippe Mexès, como futebolista e como
pessoa. Acho que foi das piores contratações do Milan nas últimas épocas. É
miserável e já o era na Roma. No último jogo conseguiu perder as estribeiras e
agarrar Mauri pelo pescoço como se fosse um membro da máfia. Com 32 anos, já
cheira a dispensa.
Alex – Percebe-se a intenção da contratação do brasileiro.
Central experiente, possante e com uma mais-valia nas bolas paradas. É, no meio
daquela desgraça chamada defesa, dos poucos que se safa embora a concorrência também
ajude. Bonera ainda lá anda, por exemplo…
Defesa-esquerdo
Luca Antonini – Era uma espécie de Abate mas sem a sorte de
ainda estar no clube. Antonini repartia as vezes com Marek Jankulovski embora
este estivesse na fase final da sua carreira no Milan. Aplica-se a máxima de
Abate mas cumpria o seu papel.
Pablo Armero – A chamada contratação “WTF?!”. Só está aqui porque foi titular com a Lazio. De resto, De
Sciglio pode (e deve) fazer a lateral esquerda.
Médios centro
Gattuso – O italiano assustava os adversários só pelo
aspecto. Era um todo-o-terreno, um gladiador que fazia o trabalho sujo. Na
posição em que jogava só podia ser assim. Agora há De Jong. Bom mas não é
Gattuso…
Pirlo – Se Gattuso era a força bruta, Pirlo era o cérebro.
Que classe de jogador! Confesso que é daqueles que me enche as medidas, o
box-to-box que o Milan/Allegri (?) deixou de querer. Aproveitou a Juventus.
Pirlo faz a festa desde que se mudou para Turim. E já se sabe, “No Pirlo, no
party!”.
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Créditos: USA TODAY Sports |
Andrea Poli – Olhamos para a dupla anterior e para Poli/Montolivo
e percebemos o desânimo dos adeptos do Milan. Poli prometeu muito na Sampdoria
e era até uma contratação lógica. A verdade é que não pegou de estaca. Serve
como médio de reserva
Ricardo Montolivo – É um jogador com técnica acima da média
mas propenso a lesões, o que impede que seja regular no onze. É uma pena porque
Montolivo é dos poucos com classe neste Milan. Se conseguir aguentar-se ainda é
titular no meio-campo.
Médio ofensivo centro
Clarence Seedorf – Como o vinho do Porto. Seedorf entrava e
emprestava classe. A idade não permitia grandes aventuras mas sabemos como o
treino físico italiano prolonga a energia dos jogadores. Já não se fabrica
disto.
Marco Van Ginkel – Chegou por empréstimo do Chelsea mas
talvez seja demasiado novo para a ocasião. Não está em causa a qualidade mas,
para a posição que ocupa, é necessário alguém com mais traquejo.
Médio ofensivo esquerdo
Ronaldinho/Robinho – Apesar de ter saído a meio da época, o primeiro
merece estar aqui. Ronaldinho foi, muitas vezes, o toque de genialidade que
toda a grande equipa deve ter. Na ausência dele, Robinho tentou assumir as
despesas mas sem sucesso…
Giacomo Bonaventura – Chegou esta época proveniente da
Atalanta. Tem potencial para ser essencial embora, aos 25 anos, tenha de deixar
de ser uma aposta para começar a ser uma certeza. Para ir seguindo.
Médio ofensivo direito
Alexandre Pato – O plantel de 10/11 tinha uma grande
vantagem. Os jogadores faziam mais do que uma posição pelo que era frequente
vê-los a trocar durante a partida. Alexandre Pato estava au point quando se sagrou campeão italiano. É uma pena que não
tenha dado seguimento mas a qualidade estava (está?) lá.
Stephan El Shaarawy – Outra vítima das lesões. Quando começa
a ganhar boa forma, regressa ao estaleiro. Tem apenas 22 anos mas muito
potencial. Se conseguir aguentar-se nas canetas pode ser um caso sério.
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Créditos: Sport H 24 |
Zlatan Ibrahimovic – Podia escrever muito sobre Ibra mas o
nome diz tudo.
Jérémy Ménez – Olhei com desconfiança para esta contratação.
É certo que não atingi o nível de cólera Mexés mas havia algo que me fazia
desconfiar de Ménez. Parece-me aquele jogador que só joga quando está para aí
virado. Mas dou a mão à palmatória, tem sido dos melhores esta época.
Menções Honrosas
2010/2011 - Bonera (eu sei mas o homem ainda safou muito), Van Bommel, Ambrosini,
Boateng, Inzaghi
2014/2015 - Rami, Muntari, Essien, Honda, De Jong.
Misters
Massimiliano Allegri – Campeão na época de estreia pelo
Milan foi deteriorando-se à medida que o tempo avançava e o plantel ficava pior. Não há milagres. Agora na Juve prepara-se para conquistar mais um
Scudetto.
Pippo Inzaghi – No meio da salganhada é complicado
fazer algo. Talvez não estivesse ainda preparado para assumir a primeira equipa
(tal como Seedorf) mas o principal problema não é dele, parece-me.
Pedro Gabriel
"Canto de mangas arregaçadas" é uma coluna de opinião cobrada à terça-feira e que pode sair sob a forma de texto, imagem ou vídeo, dependendo da forma do autor.