‘Eu
queria mesmo, era ver o Maradona’
Era
uma qualquer manhã, da segunda semana de Setembro, de 1989. Na mítica porta
10-A do Estádio de Alvalade, o rebuliço sai e entra, ou seja, está instalado.
Não era uma manhã como qualquer outra: era uma das manhãs que antecedia a
chegada a Lisboa do maior 'mágico' do mundo: Diego Armando Maradona, o homem que fazia desaparecer a bola dos olhos adversários e fazê-la aparecer na baliza. 'El Pibe',
no auge da sua carreira, ia aterrar na Portela, com os seus colegas que
equipavam um azul estranho com patrocínio da 'Mars' e que se iriam sagrar
campeões italianos nessa época, em Maio de 1990, título ganho com uma vantagem
de dois pontos sobre o AC Milan dos 'holandeses'.
Mas
o mais importante neste início de texto, é que nessa manhã da semana do 14 de
Setembro de 1989, eu fui a Alvalade. Carlos Manuel, meu antigo ídolo na Luz
(a minha primeira camisola do Benfica tem o número 6 por alguma razão) tinha-se
mudado para aquele lado da segunda circular, mas não era por isso que eu ali
estava. O meu Pai foi buscar convites para o Sporting-Nápoles que se jogava
dali a poucos dias e eu fui com ele, na esperança de os italianos, aliás,
Maradona,já ter chegado e andar por ali a treinar. Nada de Maradona nem de
italianos, como é óbvio e sobrou-me ficar sentado no degrau da porta 10-A,
enquanto o meu Pai esperava o amigo dele da direcção leonina, que lhe ia levar
os bilhetes para a magia.
Naquele
tempo, com 9 anos, lembro-me de ficar fascinado quando a RTP, pelas 23h de
domingo, no então segundo canal, transmitia jogos grandes do Calcio e uma noite
deu o Nápoles-AC Milan, com Maradona, Careca e Alemão contra Baresi, Gullit e
Van Basten. Era como se a minha televisão estivesse a transmitir imagens de
outro planeta. Um fascínio total.
Mas
voltando à curva que dava para o campo de treinos de Alvalade, sentado na
porta, vejo chegar o dirigente do Sporting, que cumprimenta o meu Pai, troca
alguma conversa e entrega o passaporte para o espectáculo que mal se sabia, em Portugal, seria único. Levanto-me, cumprimento o
senhor e nisto sai da 10-A, o jogador brasileiro Douglas. O amigo do meu Pai chama-o
imediatamente, apresenta-o e o médio, que usava o número 8, pergunta-me se sou do Sporting,
ao que respondi que não, que era do Benfica. Douglas sorriu e mesmo assim disse
que ia dar-me uma coisa. Voltou a entrar no estádio e cinco minutos depois
volta com um fato de treino completo do Sporting, dobrado num plástico, com o
patrocínio da Nissan, em letras bem à vista. Cordialmente aceitei, agradeci
e Douglas não me exigiu a mudança de clube, como seria de esperar depois de tal
oferta. Limitou-se a um aperto de mão e partiu.
Não foi o único a ir embora. Assunto
resolvido dos convites e vamos para casa. Poucos metros andados após a 10-A,
estico o fato treino ao meu Pai e digo-lhe: 'Toma. Dá a quem seja do Sporting.
Eu queria mesmo, era ver o Maradona'.
O resto? O resto é história no relvado do
Estádio José Alvalade, a 14 de Setembro de 1989.
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